Escuta miúda, que falas pelo nariz e és sardenta
e tens vinte anos e uma grande ambição
e um noivo canalizador parecido com o Nils Asther
e uma tela verde sobre o olhar azul:
Gostaria de fazer contigo um filme sonoro
Cantam sobre as árvores os pássaros pintados.
Mulheres com canastras vêm dos mercados.
Aqui produzem, vejo os homens e as luzes,
prostitutas, esqueletos, mapas, vigas e cruzes.
Radiosos elevadores em edifícios alvejantes,
sobem novos rumores de porões flamantes.
Penso em ideias velozes que vão do coração
até ao cérebro tal e qual uma exalação.
Lojas dos 300. Cansados jogadores,
colunas de cores nas barbearias.
Casas em cujos largos e estreitos corredores
são da mesma cor as noites e os dias.
E um porto. Um porto é sempre querida paragem.
Nele estão a aventura, lembranças, uma miragem
e quem a ânsia de partir nunca terá sentido?
Um porto, as tabernas e todo o mar chovido.
Por isso te digo, digo, que a tua boina vermelha
bem que um dólar e cinquenta pode custar.
Gostaria de fazer contigo um filme sonoro.
E alguma coisa mais, que não posso contar.
Raúl González Tuñón, traduzido por HMBF a partir da
versão coligida por Marta Ferrari, in Poesía Argentina - Antología
esencial, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis
García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 41-42.
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