quinta-feira, 22 de novembro de 2018

UM POEMA DE JOSÉ SESINANDO



ONDE?

Baden-Baden, Spitzberg, Salzburgo?
Acapulco, Vera Cruz, Pequim?
Thebas, Sebastopol, Hamburgo?
Nova Deli? Não? Ou Nova Iorca? Sim?
Saint-Etienne, Boston, Johanesburgo —
apartheid à parte em tempo inteiro?
Kansas City, Termópilas, Nanterre?
Rejkiavik, Puchóv, Iowa, Erre
de Janeiro?
Cartago, Liverpool, Fez ou Almodôvar?
Londonderry, Santarém, Amsterdam?
Nova Deli? Sim? Ou Nova Iorca? Nam?
A terra de Bolívar (ou, para rimar, Bolôvar)?
Postojna, Cairo, Loano, Figueiró
dos Vinhos? Reno, Colares, Chianti, Dão?
(Muito obrigado, mas só à refeição.)
Tanganika, Massachusetts, Pampilho-
sa? Paris, Bornéu, Kalamazoo?
Nova Deli? Não? Sim? Ou na O.N.U.?
Brza Palanka? Bu Ngem? (Faça favor
de repetir.) Bu Ngem? Brza Palanka?
Bridgehead, Brest, Salamalanca?
Alhos Vedros, San Marino, Andorra?
Liechtenstein, Sarre, o Corredor
de Danzig, mesmo que não corra?
Onde, onde, onde? Dizei-me, por amor
de Deus — antes que eu repita a rima
de forma mais justa (e malcriada, inda por cima).

1956

José Sesinando, in Obra Perfeitamente Incompleta, edição de Abel Barros Baptista e Luísa Costa Gomes, prefácio de Abel Barros Baptista, Edições Tinta-da-China, Junho de 2018, pp. 103-104.

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