terça-feira, 27 de novembro de 2018

VARIAÇÃO SOBRE O «SONETO JÁ ANTIGO» DE FERNANDO PESSOA


SONETO DO PERDIDO

Pode dizer-me onde estou, senhor?
Desorientei-me ao sair do botequim
Aquele da Travessa do Guarda-Mor,
Ali para o lado da Rua do Alecrim.

Estarei em Lisboa ou em Rio Maior?
No Porto, em Faro, Almeirim ou Santarém?
Estou porém certo de que não há melhor
Do que perguntar a questão a alguém.

Diga-me, por favor, onde vagueio.
O Norte está para ali, para onde eu vivo
E repetidas vezes faço eu este passeio.

O mundo é vago, com os guias de permeio
E os cicerones a indicar onde persigo
No meu viver tão triste e feio.


José Sesinando, in Obra Perfeitamente Incompleta, edição de Abel Barros Baptista e Luísa Costa Gomes, prefácio de Abel Barros Baptista, Edições Tinta-da-China, Junho de 2018, p. 186.

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