A história verídica de um médico congolês que, para fugir à
ditadura de Mobutu, se instala com a família numa aldeia francesa. Outrora
Zaire, a República Democrática do Congo foi desgovernada por Mobutu Sese Seko
entre 1965 e 1997. O filme de Julien Rambaldi (n. 1971) recria a história do
médico Seyolo Zantoko na década de 1970. Formado em Paris, recusou regressar ao
Zaire como médico pessoal de Mobutu. Preferiu ser colocado numa aldeia a norte
da capital francesa. A decisão acarreta riscos, mas a vontade de obter
nacionalidade francesa para poder exercer medicina no país que o formou
impõe-se aos benefícios imediatos da cedência ao regime natal. Com a mulher
desesperada e os filhos acabrunhados, a família instala-se numa aldeia
refundida. Aí terá de se impor junto de uma comunidade onde ainda prevalecem os
preconceitos racistas. Comédia romântica, se assim se pode dizer, povoada de
mensagens políticas e sociais, Bienvenue à Marly-Gomont (2016) é um filme que
se vê com condescendência numa tarde de domingo. Mais eficaz nos momentos emotivos do
que nas charlas cómicas, torna-se algo vazio quando pretende expor os
comportamentos da comunidade rural onde se instala a família Zantoko. A
paisagem e o provincianismo das personagens não justificam tamanho
aparvalhamento, supondo-se que a integração tenha acarretado momentos bem mais agrestes
do que a paleta colorida e ligeira permite adivinhar. No papel de Anne Zantoko, mulher do
protagonista, reencontramos Aïssa Maïga, que entrou com menos 10 anos em Paris,
je t’aime (2006). Só pela sua presença já não se dá o tempo por perdido.
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