quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

UM POEMA DE RAQUEL SALAS RIVERA


PENETRO

meu braço é o órgão potente da minha feminidade
posso chegar até ao fígado com o meu braço

quando aponto [estando dentro de mim] posso sangrar-me
posso criar um [crac] buraco na minha saúde
por onde sairão líquidos fermentadores
emprenharão o rio com seus
ajustes odoríficas suficiências

agarrajuste dor-madura

desgarrei teu sol de seu segundo centro sombra(terra)
e quando tanto pó-luz far-se-á do mundo
levar-nos-á ao túmulo predilecto e far-nos-á amor
após nos enfiar o dedo do meio como um sinal comum


Raquel Salas Rivera (n. Mayagüez, Porto Rico, 1985) publicou o primeiro livro em 2011: Caneca de anhelos turbios. Fixou-se nos EUA, onde estudou Literatura Comparada. Grande parte da sua obra tem surgido no país de acolhimento em edições bilingue. São disso exemplo os volumes oropel/tinsel (2016), lo terciário/the tertiary (2018), nomeado para o National Book Award, e x/ex/exis (poemas para la nación), vencedor do Ambroggio Prize da Academy of American Poets. É co-editora da revista The Wanderer e poeta laureada da cidade de Filadélfia. O poema acima reproduzido foi copiado do primeiro livro da autora publicado em Portugal: Desdomínios (Douda Correria, Julho de 2019). Sobre esta poesia, diz o tradutor Mariano Alejandro Ribeiro: «Na sua poética, o género deixa de ser uma definição para passar a ser uma questão, uma questão que se estende pelos meandros dos seus versos a temas que vão da política ao amor, em tons mais bucólicos ou em tons mais violentos, sem nunca deixar de estar latente, inclusive nas formas mais inusitadas, a representação do género nas experiências do quotidiano». 

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