Robert Louis
Stevenson (1850-1894), deste já ouvistes falar. Foi quem escreveu A Ilha
do Tesouro (1883), que por certo já visitastes, tal como O Estranho caso do Dr.
Jeckyl e Mr. Hyde (1886), que escusais de ler se vos atentardes ao mundo dos
homens em geral e dos artistas em particular. Morreu com a idade que vosso pai
tem hoje, mas com uma vida incomparavelmente mais cheia. Naqueles tempos
vivia-se menos, mas mais. O que contradiz a lógica aristotélica.
Nascido em boas
famílias da Escócia, teve uma educação privada para protecção dos brônquios. Pretendiam
que fosse engenheiro, protegendo a continuidade do negócio de família, mas ele
era mais dado a leituras, arte e ócio. Herdou do pai o gosto pelas viagens,
encarregando-se de não as conspurcar com a mania dos negócios. A decisão pela
literatura deixou a família perturbada, tornou-se evidente quando começou a
deixar crescer o cabelo, a adoptar um estilo de vida boémio, a vestir-se como
um ateu, a adoptar como lema o de muitos dos seus pares: desrespeita tudo
quanto os teus pais te ensinaram.
Eis, minhas
filhas, ensinamento a que deveis prestar a máxima atenção, mais nenhum senão
este deveis adoptar se pretendeis ser verdadeiramente livres. É vosso pai quem o diz.
Desta e de
outras máximas nasceram obras eternas, entre as quais deveis especialmente considerar
Uma Apologia dos Ociosos (& etc, Junho de 2005). Das várias edições
disponíveis a mais bonita é esta, devidamente prologada e seguida do ensaio
Conversa e Conversadores. A «defesa pseudofilosófica da preguiça» ensaiada
neste livro, surgido inicialmente numa revista publicada em 1877, diz-nos desde
logo o que nenhum livro senão este pode ensinar: «Os livros são úteis à sua
maneira, porém um substituto bem pálido da vida». E acrescenta: «Basta dizer
isto: se um jovem não aprende na rua é porque não tem capacidade de aprender».
Elogio do
nomadismo contra o sedentarismo, da rua contra a academia, da experiência
contra a literatura, isto é, de uma literatura com vida e experiência, colhida da terra e não da poalha dos livros. Contra a escolástica, colocando em xeque
toda a ideia de Sucesso na Vida que não seja o vivê-la tirando partido das
experiências, do contacto com o desconhecido. Um aventureiro, este Stevenson.
Um hedonista, talvez: «Os prazeres são mais benéficos do que as obrigações
porque, tal como a faculdade de perdoar, não são forçados, e portanto
representam uma dupla bênção».
Podeis contra-argumentar
que tal discurso não seria possível sem barriga cheia, que o senhor Robert nos
fala lá de um lugar onde não teve de chegar por dele ter partido, podeis
desconfiar da sua argumentação crendo que bem diferente seria caso desde
cedo tivesse ele sido forçado pelas circunstâncias a fazer pela vida como o
comum dos mortais. Todas as críticas são válidas, desde que descanseis o corpo
sobre elas. O que nestes casos importa é a mensagem, venha ela de onde vier. Certo
é que mais nos valerá sempre um elogio do ócio do que
uma defesa do sacrifício. A vida é curta, não merece que a desperdicemos com as despesas do supérfluo.
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