quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

A VIDA


a jacques mamruth

quando o meio-dia
te oferece um mundo vazio
quando um passo a trás é a morte
e ficar quieto é um passo a trás
então
levado pela inocuidade do momento
deixas mover alguma parte do teu corpo

pensaste
deixarei que algo aconteça
se tudo é nada também algo será nada

enganas-te
através dessa lacuna
toda a realidade inteira escoará

se permites o menor movimento à quietude
se deixas entrar no vazio a mais parda molécula
esse movimento essa molécula
nessa quietude nesse vazio
armarão uma festa gloriosa

e festa após festa
o restaurado meio-dia promete a tarde acobreada
sentes-te senhor
e começas a viver novamente

e é assim
nada há a fazer

César Fernández Moreno, versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010,  pp. 150-151.

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