domingo, 3 de fevereiro de 2019

UM POEMA DE CÉSAR FERNÁNDEZ MORENO



MADRIGAL

tal como um gato envolto no seu pêlo
se senta na fria calçada da madrugada
ao pé da porta que seu dono ausente fechou à chave

tal como esse gato a miar debilmente enquanto  olha para a alta fechadura
e depois ansioso para os poucos transeuntes que passam a essa hora
quem sabe amigos do seu dono ou mesmo seu dono
quem sabe podendo abrir-lhe a porta inacessível
permitindo-lhe regressar ao calor de que a sua natureza necessita

assim também eu na esperança de tão remotas possibilidades
olhava e observava qualquer pessoa recolhido na calçada
até que por azar tu passaste sensível a todos os animais
me olhaste como eu a ti
me disseste qual era a minha porta verdadeira
e te fizeste minha dona

César Fernández Moreno, versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010,  P. 149.

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