MADRIGAL
tal como um gato envolto no seu pêlo
se senta na fria calçada da madrugada
ao pé da porta que seu dono ausente fechou à chave
tal como esse gato a miar debilmente enquanto olha para a alta fechadura
e depois ansioso para os poucos transeuntes que passam a
essa hora
quem sabe amigos do seu dono ou mesmo seu dono
quem sabe podendo abrir-lhe a porta inacessível
permitindo-lhe regressar ao calor de que a sua natureza
necessita
assim também eu na esperança de tão remotas
possibilidades
olhava e observava qualquer pessoa recolhido na calçada
até que por azar tu passaste sensível a todos os animais
me olhaste como eu a ti
me disseste qual era a minha porta verdadeira
e te fizeste minha dona
César Fernández Moreno, versão de HMBF a partir do
original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX
en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis
García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, P. 149.
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