quarta-feira, 5 de junho de 2019

ABUTRES, HIENAS E CHACAIS


Quase 11 anos a trabalhar numa livraria, e nunca foram tantos os livros de Agustina que vendi como esta manhã. Não tendo sido o caso, por circunstâncias muitas e por demais conhecidas, em Portugal o escritor poder morrer à fome, que ninguém liga, pode viver na miséria, que ninguém sabe, pode desunhar-se em tarefas várias para garantir pão na mesa, que o leitor está-se nas tintas. Para quê ler Agustina quando temos Minh’alma? Mas morto o escritor, ai Jesus que escarcéu. É preciso lê-lo, é urgente conhecê-lo, impõe-se que pelo menos 1 livreco apodreça nas estantes para que ninguém diga de nós termos sido descuidados. Força aos novos leitores de Agustina, desejo-lhes a melhor das aventuras em torno da carcaça. Neste país de hienas, chacais e abutres, merecerão por certo toda a nossa consideração. Afinal sempre a morte aguçou apetites.

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