Um cliente procurava “As Intermitências da Morte”, dizendo
que lhe apareceu bicho em casa. Não indaguei sobre a questão do bicho, já nada
me surpreende. Agarrei no livro e coloquei-lho nas mãos. Continuou dizendo que
precisava de tirar dúvidas sobre o bicho, enquanto puxou do telemóvel e começou
a fazer-lhe festas como quem procura respostas para dúvidas imensas. Às tantas
pergunta-me se livro é o mesmo que romance, assim mesmo: “livro é o mesmo que
romance?” Fiquei sem saber o que lhe responder, à espera de ver no que aquilo
dava. Perante a estupefacção, esclareceu-me: aqui (apontou para o telemóvel)
fala numa borboleta que vem na capa e representa a morte, queria saber se é o
bicho que me apareceu em casa. Disse-lhe que houve uma edição daquele livro com
uma borboleta na capa, mas agora só se encontraria, com sorte, em alfarrabistas
e feiras de velharias. Ficou decepcionado. Também lhe sugeri um livro sobre
borboletas. E foi nessa altura que se fez luz, ele procurava precisamente um
livro sobre borboletas do José Saramago. Tente na feira do livro de Lisboa,
senhor, lá encontra-se tudo.
2 comentários:
Fantástica realidade que coloca em sentido a melhor ficção. Poderias fazer um livro ou um capitulo só dedicado a estes pés de vento literários. Brilhante.
Em tempos guardei imensas destas histórias, todas hiper-realistas, sem uma pinga de invenção. Depois cansei-me de as guardar. A certa altura até me deprimiam.
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