NOTÍCIAS (II)
Da Argentina.
Luis Sabini
salvou-se. Conseguiu sair do país. Tinha desaparecido nos finais de 1975 e,
passado um mês, soubemos que o tinham prendido. De Haroldo Conti não há rasto.
Foram buscar Juan Gelman à sua casa de Buenos Aires. Como não estava, levaram
os filhos. A filha apareceu uns dias depois. Do filho não se sabe nada. A
polícia diz que não o tem; os militares dizem que também não. Juan ia ser avô.
A nora, grávida, também desapareceu. Cacho Paoletti, que nos enviava textos de
La Rioja, foi torturado e continua preso. Outros escritores que publicaram na
revista: Paco Urondo, morto a tiro há algum tempo, em Mendoza; Antonio Di
Benedetto, na cadeia; Rodollfo Walsh, desaparecido. Nas vésperas do seu próprio
sequestro, Rodolfo enviou uma carta denunciando que a Três A é hoje as Forças
Armadas, «a própria fonte do terror que perdeu o rumo e só consegue balbuciar o
discurso da morte».
Eduardo Galeano, in Dias e Noites de Amor e de Guerra,
trad. Helena Pitta, Antígona, Março de 2019, p. 301.
A CHAMA
A velha chama não se apaga.
As tormentas, as
impiedades, tudo
quanto renuncia não
o impedem de tremer como corpo desejado.
Insiste no fracasso do mal, ainda que
ilimitado sangue tenha primeiro
manchado o coração, ele que
a cada dia mudava de fúrias.
A chama está escrita e não se perde.
Frequenta imprecisas terras
que vai construindo.
(a Eduardo Galeano)
Juan Gelman, versão de HMBF a partir do original coligido
por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina,
vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García
Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 294-295.
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