domingo, 23 de junho de 2019

EDUARDO GALEANO & JUAN GELMAN



NOTÍCIAS (II)

   Da Argentina.
   Luis Sabini salvou-se. Conseguiu sair do país. Tinha desaparecido nos finais de 1975 e, passado um mês, soubemos que o tinham prendido. De Haroldo Conti não há rasto. Foram buscar Juan Gelman à sua casa de Buenos Aires. Como não estava, levaram os filhos. A filha apareceu uns dias depois. Do filho não se sabe nada. A polícia diz que não o tem; os militares dizem que também não. Juan ia ser avô. A nora, grávida, também desapareceu. Cacho Paoletti, que nos enviava textos de La Rioja, foi torturado e continua preso. Outros escritores que publicaram na revista: Paco Urondo, morto a tiro há algum tempo, em Mendoza; Antonio Di Benedetto, na cadeia; Rodollfo Walsh, desaparecido. Nas vésperas do seu próprio sequestro, Rodolfo enviou uma carta denunciando que a Três A é hoje as Forças Armadas, «a própria fonte do terror que perdeu o rumo e só consegue balbuciar o discurso da morte».

Eduardo Galeano, in Dias e Noites de Amor e de Guerra, trad. Helena Pitta, Antígona, Março de 2019, p. 301.

A CHAMA

A velha chama não se apaga.
As tormentas, as
impiedades, tudo
quanto renuncia não
o impedem de tremer como corpo desejado.
Insiste no fracasso do mal, ainda que
ilimitado sangue tenha primeiro
manchado o coração, ele que
a cada dia mudava de fúrias.
A chama está escrita e não se perde.
Frequenta imprecisas terras
que vai construindo.

                                 (a Eduardo Galeano)

Juan Gelman, versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 294-295.

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