MADAME BOVARY
Enganaste-te Emma
quando saíste de
casa numa carruagem com grandes
rodas que
rodavam para trás como nos
filmes do Oeste
porque a tua solidão era algo que apenas devia ser teu
e porque era fatal que
ninguém te
compreenderia naquela aldeia provinciana
nem mesmo teu marido
pobre homem
grisalho ferido pelo teu amor
Bem, não me fales agora das tuas taquicardias
ou dos vestidos
com saiotes e rendas
deixa-me explicar-te
que apenas
lastimo
que te tenham perseguido furiosamente
os vizinhos
inaptos no jogo
do teu coração virgem
e lastimo que o teu século tenha sido de lenta
mudança
observada através das gelosias do convento
põe talvez o
anel ou os colares dos hippies
e pensa em Carnaby Street em como ser infiel
sem ter de
recorrer à consciência
de pobre rapariga provinciana
Eu penso que tu apenas querias saber
como te despiriam os outros
e estes outros
cretinos traíram-te Emma
Dá-me a mão não
chores mais
fica em silêncio
escutemos juntos
estes discos dos Beatles.
Alfredo Veiravé (n. Gualeguay, Entre Ríos, 29 de Março de
1928 – m. Resistencia, Chaco, 22 de Novembro de 1991), versão de HMBF a partir
do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo
XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por
Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 288-289.
Sem comentários:
Enviar um comentário