sexta-feira, 14 de junho de 2019

MADAME BOVARY POR ALFREDO VEIRAVÉ


MADAME BOVARY

Enganaste-te Emma
   quando saíste de casa numa carruagem com grandes  
   rodas que rodavam para trás como nos
                                                                      filmes do Oeste
porque a tua solidão era algo que apenas devia ser teu
e porque era fatal que
   ninguém te compreenderia naquela aldeia provinciana
nem mesmo teu marido
   pobre homem grisalho ferido pelo teu amor
Bem, não me fales agora das tuas taquicardias
   ou dos vestidos com saiotes e rendas
deixa-me explicar-te
   que apenas lastimo
que te tenham perseguido furiosamente
   os vizinhos inaptos no jogo
do teu coração virgem
e lastimo que o teu século tenha sido de lenta
   mudança observada através das gelosias do convento
   põe talvez o anel ou os colares dos hippies
e pensa em Carnaby Street em como ser infiel
   sem ter de recorrer à consciência
de pobre rapariga provinciana
Eu penso que tu apenas querias saber
como te despiriam os outros
   e estes outros cretinos traíram-te Emma
   Dá-me a mão não chores mais
fica em silêncio
   escutemos juntos estes discos dos Beatles.

Alfredo Veiravé (n. Gualeguay, Entre Ríos, 29 de Março de 1928 – m. Resistencia, Chaco, 22 de Novembro de 1991), versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 288-289.

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