AS PALAVRAS QUOTIDIANAS
A questão é entender a intenção
das palavras que usamos obcecadamente:
as que o ardina grita,
as que o leiteiro murmura entre os vapores
do amanhecer,
as que rodopiam obsessivamente na cabeça do louco,
as que sem saber o carteiro leva no saco.
São poucas as palavras que sustentam a realidade
e que poderiam destruí-la apenas com a sua ausência;
são as que usamos para explicar a nossa parte do mundo,
as palavras de nossa convicção,
da nossa aposta íntima.
A questão é entender a intenção das palavras,
essa harmonia sem ênfase que se parece ao destino.
Santiago Sylvester (n. 1942), versão de HMBF a partir do
original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX
en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis
García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, p. 361.
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