PALAVRAS
Vista daqui, a infância cabe na palavra anona.
A palavra Arminda também serve —, além de nome
é o resumo de uma celebração.
A palavra juventude é demasiado eufórica,
mas continua, impetuosa e grave, a salvo de
qualquer caducidade.
Também o meu tio Santiago estava a salvo da caducidade:
sensatamente
a ignorava
quando
aos setenta anos fazia projectos que lhe
levariam outros setenta
e sumariava,
como quem ensina,
sou eterno, isso é tudo.
Não se trata tanto, então, de juntar palavras como
significados:
a persistência de alguém que por acaso
seja eu.
Porque quem fará o trabalho, senão eu,
sabendo que
consiste, até à exaustão,
em
continuar a procurar o já procurado?
Mais uma vez
não é repetição:
o que conta é o gotejar,
o preço
da aprendizagem;
surge então a palavra inconclusa: reclama
a sua
metade,
encrespa-se e não vem só.
Daí todo este ruído:
este
excesso de palavras
para
explicar palavras.
Santiago Sylvester (n. 1942), versão de HMBF a partir do
original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX
en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis
García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 368-369.
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