CAVALGADA DA SABURA
Ó poldra que me arroteaste a tusa,
loba que uivasses, dura musa,
nem sabes, na hora do tesão,
que o diabo te tem na mão; ou não
montasse eu em ti, tal potranca
que, com arreganho, dando o pinote,
diz: «saudades do repinicante chicote,
que me faz viva, mesmo se desanca.»
Poldra ou puta, tudo é anelo
de destreza ou lhaneza na largura;
mas se descomposta, na hora da sabura,
nem pra recobro se recolhe o martelo
— bumba que zumba, na crica
que replica, ó brutal cavalgada,
só vida que fervilhasse na danada,
na hora em que, sem pose, se claudica.
José Luiz Tavares, in Arder a Vida Inteira, Abysmo, Maio de 2019, p. 66.
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