O estado brasileiro da Rondônia, que não sei identificar
no mapa, foi notícia ontem e continua a ser hoje por causa de um despacho a
pedir que fossem recolhidos vários livros das escolas, alegadamente por
conterem conteúdos inadequados para crianças. Entre os 43 livros censurados
estavam obras de Kafka e de Poe, todos os outros eram de autores brasileiros. O
autor do memorando dedicou especial atenção a um autor: "Todos os livros
do Rubem Alves devem ser recolhidos". Fiquei com uma vontade enorme de ler
Rubem Alves. Depois de se esquivar ao tema, considerando-o fake news (não é
piada), o governo de Bolsonaro disse que não tinha conhecimento da medida. Dada
a repercussão pública do caso, o despacho foi abortado (já era um aborto desde
o início) e os livros, aparentemente, não foram recolhidos. A Rondônia é
governada pelo coronel Marcos Rocha, aliado de Bolsonaro desde a primeira hora.
É gente que lê pouco, quase nada de literatura internacional. E não querem que
os outros leiam. Passaram os olhos pela Bíblia truncada da IURD, onde por certo
as crianças e os jovens brasileiros encontrarão materiais adequados às suas
frágeis sensibilidades. Convenhamos que, até ver, o Index Librorum Prohibitorum
da Rondônia é de uma pobreza confrangedora. A implicação com Rubem Alves tem a
sua razão de ser: com Paulo Freire, é considerado um dos mais relevantes
pedagogos brasileiros. Com a agravante de ter sido pastor presbiteriano.
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