sábado, 8 de fevereiro de 2020

FAZER A RONDA


O estado brasileiro da Rondônia, que não sei identificar no mapa, foi notícia ontem e continua a ser hoje por causa de um despacho a pedir que fossem recolhidos vários livros das escolas, alegadamente por conterem conteúdos inadequados para crianças. Entre os 43 livros censurados estavam obras de Kafka e de Poe, todos os outros eram de autores brasileiros. O autor do memorando dedicou especial atenção a um autor: "Todos os livros do Rubem Alves devem ser recolhidos". Fiquei com uma vontade enorme de ler Rubem Alves. Depois de se esquivar ao tema, considerando-o fake news (não é piada), o governo de Bolsonaro disse que não tinha conhecimento da medida. Dada a repercussão pública do caso, o despacho foi abortado (já era um aborto desde o início) e os livros, aparentemente, não foram recolhidos. A Rondônia é governada pelo coronel Marcos Rocha, aliado de Bolsonaro desde a primeira hora. É gente que lê pouco, quase nada de literatura internacional. E não querem que os outros leiam. Passaram os olhos pela Bíblia truncada da IURD, onde por certo as crianças e os jovens brasileiros encontrarão materiais adequados às suas frágeis sensibilidades. Convenhamos que, até ver, o Index Librorum Prohibitorum da Rondônia é de uma pobreza confrangedora. A implicação com Rubem Alves tem a sua razão de ser: com Paulo Freire, é considerado um dos mais relevantes pedagogos brasileiros. Com a agravante de ter sido pastor presbiteriano.

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