sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

UM POEMA DE ANTÓNIO DE MIRANDA

BIOGRAFIA

Pouca gente me conhece.
& o mundo inteiro também não!
Como ele costumava dizer, gostava de ter sido eu
a escrever isso mesmo.
Não tenho muito a esconder
&
muito menos poderei mostrar.
Trocámos de óculos
e, naturalmente, disse Ferlinghetti:
É pá! Não digas essa palavra!
Fumámos haikus,
Disse-lhe que tudo é possível
para além do razoável da nossa impossibilidade.
Embrulhámos certas sinfonias
debaixo do guarda-chuva da alegria.
Ali, os caminhos opostos não nos fizeram mais
distantes.
Rasguei do livro uma folha
para lhe devolver as palavras que me tinha
emprestado.
Isto é para mim?
Também é para nós.
A chuva esperou pelo fim do nosso poema
e só depois começou a molhar.

António de Miranda, in Só esperava a viagem prometida, volta d'mar, Junho de 2018, p. 11.

Sem comentários: