A iniciativa #EstudoEmCasa arrancou ontem, acompanhada de
um chorrilho de críticas para todos os gostos. Era previsível que assim fosse.
Qualquer iniciativa do Ministério da Educação está sujeita, à partida, a ser
crucificada na praça pública. Há duas razões para que assim seja: temos os mais
inúteis experts do mundo em matéria de educação. Segundo: os professores adoram
dizer mal dos professores, excepto quando são atacados por quem não está dentro
da classe. Nada de novo, portanto. Sucede que os tempos são, de facto, novos,
obrigam a experiências inovadoras, a uma certa ousadia em matéria de experimentalismo, até a algum voluntarismo.
E nisto, como em tudo, há os que se chegam à frente e os que se sentam na fila
de trás, com um semblante perscrutador, para poderem dizer mal e criticarem.
Ambas as atitudes são legítimas, sobretudo se quem ficar na fila de trás tiver
uma atitude proactiva que contribua para o aperfeiçoamento do que está mal. Mas
não quero ser chato nem moralista. Perante os comentários que vi à indumentária
dos professores, aos penteados, a uma ou outra calamidade congénere, ponho-me a pensar no
assunto e fico com sensações ambivalentes acerca do tema. Qualquer que fosse a
decisão do Ministério, ela seria objecto de crítica. É de lei. Tendo sido esta
a opção, quanto a mim bem, porque do mal, o menos, talvez a atitude correcta
fosse uma certa condescendência, ou, pelo menos, alguma paciência. Eu admiro
honestamente o esforço e a dedicação de todos quantos se empenham para manter a
máquina funcional, admitindo haver muita coisa a ser corrigida. Depressa e bem
não há quem, diz o povo e com razão. Ainda assim, vi excertos de uma aula com a
minha filha Beatriz e não desgostei do que vi. Por outro lado, compreendo as
críticas daqueles que se focam na indumentária dos professores, no tipo de
calçado que levam para as salas-estúdio, nos penteados e numa ou noutra calinada. Faz-me pensar no risco que é, até para os professores, uma medida
destas. Um simples frame de uma postura menos ortodoxa, um lapsus linguae
inadvertido, podem arruinar a reputação de quem ousou chegar-se à frente, dado
ser agora tão fácil pôr em prática a uma escala universal os comportamentos do
fanfarrão da turma. Não deixa de ser curioso verificar quão democrática se
tornou a fanfarronice neste novo mundo em rede. Qualquer pessoa fica exposta ao
ridículo quando assume publicamente a sua maneira de ser e de estar. Em televisão, e sem
qualquer preparação prévia, seja pelo tom de voz ou pelo penteado ou pela
gralha inevitável, essa exposição ao ridículo pode assumir uma escala inimaginável. Mas se as aulas nas escolas fossem filmadas, ideia que espero não
vir a passar pela cabeça de ninguém, seria diferente? Não estariam todos
sujeitos à gozação geral. Muito pode ser corrigido nesta iniciativa do
Ministério da Educação, mas nada que possa resolver a falta de humildade
daqueles que, estando em casa, pouco mais conseguirão fazer do que dizer mal.
Quantos de nós estariam dispostos a cumprir o papel que estes professores estão
a cumprir? Cheguem-se à frente, candidatem-se, enviem currículos, participem.
Eu prefiro ficar em casa.
2 comentários:
Também fiquei triste com o que vi e li. Há pessoas que são mais formatadas do que julgam. Tudo o que lhes foge do seu padrão ideal merece uma crítica impiedosa.
...a formação de formadores tem um módulo que se chama "autoscopia" e que pretende confrontar os futuros formadores com a sua imagem. Eu já cá conto com algumas feitas e de cada vez me espanto com os erros que cometo. Não sei se a formação de professores contempla este módulo mas é para mim um dos mais importantes da formação pedagógica. Claro que o que se pretende é perceber o que "se tem que melhorar" e não o "bota abaixo" que imagino se faça nas caixas de comentários do facebook (não sou cliente...).
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