quinta-feira, 16 de abril de 2020

LUIS SEPÚLVEDA (1949-2020)


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   Sonho, e não me importo que uma visão do lucro como única orientação do homem estigmatize os sonhos e os sonhadores. Considero-me um sonhador, paguei um preço bastante duro pelos meus sonhos, mas são tão belos, tão plenos e tão intensos que voltaria a pagá-lo uma e outra vez.
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   Primeiro, sou cidadão e homem livre, depois sou escritor. Tenho para mim que se é homem antes de se ser artista ou escritor, creio que se é responsável antes de se ser célebre, creio que se é justo antes de famoso, pois, caso contrário, a arte, a celebridade e a fama não seriam mais do que desculpas para não cumprir os deveres de homem e de cidadão.
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   As minhas histórias, escreve-as um homem que sonha com um mundo melhor, mais justo, mais limpo e generoso. As minhas histórias, escreve-as um chileno que sonha que este país cumpra o mais belo dos sonhos: sentarmo-nos todos à mesma mesa com confiança e sem a vergonha de saber que os assassinos daqueles que nos faltam não recebem o justo castigo.
   E esse sonho será materializado no dia em que soubermos onde estão os que nos faltam, porque, ao sabê-lo, a nossa memória não terá abertas as feridas da incerteza, o bálsamo da justiça encarregar-se-á de fechá-las e poderemos continuar a sonhar, porque só sonhadores e fiéis ao sonhos é que conseguiremos ser melhores, e, se formos melhores, o mundo será melhor.
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Palavras da alocução "Ainda Acreditamos nos Sonhos", proferida no lançamento da Editorial Aún Creemos En Los Sueños, na Biblioteca Nacional de Santiago do Chile, em 16 de Abril de 2002. In "O Poder dos Sonhos", tradução de Henrique Tavares e Castro, ASA Editores, Setembro de 2006, pp. 10-24.

1 comentário:

Marina Tadeu disse...

Li agora. Obrigada Henrique. Estava à beira de reagir muito explosiva aos comentários grosseiros que encontrei por aqui de cobardes anónimos ou de pseudónimos apatetados mas bastou-me esta foto para me lembrar de que todas as causas grandes ou pequenas são, de uma maneira ou doutra, perdidas.