quinta-feira, 21 de maio de 2020

SEMIÓTICA DO ENGATE


Havia a situação do indivíduo que saía para beber uns copos à noite e acabava na cama com um travesti. A semiótica do engate exige agora outra sofisticação. Por detrás de uma máscara muita coisa pode ser escondida. À pergunta “o que mais aprecias numa mulher ou num homem”, temo o desaparecimento das tradicionais respostas olhos, mãos, pernas, cu, mamas. As pessoas estão a redescobrir a relevância do nariz e da boca, isto é positivo. O lado negativo é a drástica redução percentual de probabilidades na sedução de mercearia ou supermercado. Quem tiver visto “Lua de Mel, Lua de Fel”, de Roman Polanski, sabe do que estou a falar. Quem não tiver visto, veja. Mais que não seja pela Emmanuelle Seigner, que é daquelas a quem, à época, com máscara ou sem máscara tudo ficava bem. Nem tudo irá ficar bem, já sabemos. Uma das coisas que não ficará nada bem é este novo exercício de adivinhar a linguagem do olhar. Estará a sorrir? Estará zangada? Estará triste? E com os vesgos, como será? Tento aquietar o espírito convencendo-me de que quem vê caras não vê coração, isto é, quem não vê caras também não vê corações. Portanto, o meu foco irá todo para aquela parte do peito onde Deus Nosso Senhor incrustou a bomba de sangue que nos anima. Espero não me distrair com os decotes.

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