Umberto Eco terá dito que as redes sociais deram voz aos
imbecis, mas eu julgo que devemos ir um pouco mais longe. As redes sociais são
mesmo uma escola de imbecis. A vertigem da partilha e do like usurpa o foco,
rasura a concentração, trai o espírito crítico e apaga a curiosidade. É por
isso que se partilha tanta notícia antiga como se fosse actual ou se anunciam
repetidamente as mesmas mortes. O utilizador das redes fica pelo título, não
espreita a data, não lê o artigo. Mais do que estar interessado em se informar,
ele quer comentar, quer ter algo a dizer. As máquinas de comunicação dos
populistas servem-se disto de um modo altamente eficaz. Os títulos enunciam invariavelmente
juízos, fazendo uso de verbos ou de expressões assertivas: arrasar, dar cabo
de, levar ao tapete. Quem quer saber do resto? O que importa é ver o adversário
de rastos, por KO. Saber porquê ou em nome de quê dá trabalho, é fastidioso. Um
título do tipo "Estátua de Camões vandalizada" fará o seu percurso,
sendo cada vez menos aqueles que se colocarão face ao mesmo interrogando: em
que consistiu o acto vândalo? Pois bem, raminhos de flores em homenagem ao
poeta no dia que lhe é consagrado e... uma máscara descartável pendurada nas
orelhas. Nos tempos que correm, o gesto de pendurar a máscara nas orelhas de
Camões até podia ser interpretado como uma instalação artística, reivindicação
pelos que, tal como sucedeu ao poeta, estão a morrer de fome para que outros,
no futuro, encham a boca com as suas obras. Sem ler, sem ver, os comentários
sucedem-se no tom mais que esperado:
"Ha quem chame a isto ignorancia mas não e, sabem
bem o que fazem. E o chamado terrorismo psicológico, dividir para reinar. Os
filhos da putice estão por aí."
*
"Triste chegarmos a este ponto ser humano estraga e
faz coisa desta paciencia algum respeito pela nossa cultura deve der ou serem
castigados interesse général"
*
"Abram as discotecas e bares, para terem uma
ocupação, senão destroem o país"
*
"Façam monumentos aos parasitas e imbecis que
por aí andam a comer à conta de quem trabalha”
(…)
1 comentário:
O interesse do General (ou o interesse geral)
É triste chegarmos a este ponto.
O Ser Humano estraga e faz coisas destas...
Paciência.
Algum respeito pela nossa Cultura deve ter
ou seremos castigados.
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