terça-feira, 28 de julho de 2020

BRUNO CANDÉ


   Não há tema que me deprima mais do que o racismo, dá-me vontade de sair de casa e desatar a matar pessoas. Eu, que se tivesse uma arma de fogo em casa, já me tinha suicidado 100 vezes, fico com vontade de matar pessoas, pessoas que dizem ser mais pessoa do que outras pessoas, pessoas que julgam ser mais pessoa do que outras pessoas por causa da cor da pele.
   Quando era professor, fazia regularmente um exercício com os meus alunos. Vou trocar as personagens:

   Imagina que vives num prédio com três andares e certo dia tens de pedir a um vizinho que tome conta da tua filha menor por uma tarde. No rés do chão direito vive uma família cigana, no esquerdo vive um padre. No primeiro esquerdo vive um rapaz de 21 anos que trabalha no apoio ao cliente numa empresa conhecida. Ao lado vive um casal discreto. No segundo esquerdo vives tu, tendo como vizinhos, no lado direito, uma mulher de 30 anos com os seus 4 filhos. Por cima de ti vive um piloto de aviões e ao lado, no terceiro direito, um senhor embaixador. A pergunta é: a quem pedias que tomasse conta da tua filha?
   Ninguém escolhia a família cigana, sendo vários os que optavam pelo padre sem saberem que se tratava do padre Luís Mendes, condenado a 10 anos de prisão por 19 crimes de abuso sexual de menores. Outros escolhiam a vizinha do segundo direito, Brittany Tucker, uma norte-americana que se suicidou depois de assassinar os 4 filhos e uma vizinha. O rapaz de 21 anos é Anders Behring Breivik, o casal discreto é Pedro Dias e a mulher, o piloto de aviões é Andreas Lubitz e o embaixador, ao cuidado de quem alguns alunos deixariam os seus filhos, é Jorge Ritto. Era muito provável que, por causa de preconceitos estúpidos que nos toldam inúmeras decisões, a nossa pobre criança se queixasse de dores quando regressasse aos nossos braços.

   Racismo é mais ou menos isto, condenar o outro ao sofrimento por sermos incapazes de olhar uns para os outros com empatia. É uma palavra bonita, procurem o seu significado. E apliquem na vida, porque não tarda muito estarão todos mortos. Se é que não estão já.

2 comentários:

Gato Aurélio disse...

...antes de ler a parte de "Ninguém escolhia a família cigana(...)" já tinha decidido que poderiam ser todos menos o padre... (paga o justo pelo pecador...? ;-) )

alexandra g. disse...

Grande Henrique!