Não há tema que me deprima mais do que o racismo, dá-me
vontade de sair de casa e desatar a matar pessoas. Eu, que se tivesse uma arma
de fogo em casa, já me tinha suicidado 100 vezes, fico com vontade de matar
pessoas, pessoas que dizem ser mais pessoa do que outras pessoas, pessoas que
julgam ser mais pessoa do que outras pessoas por causa da cor da pele.
Quando era professor, fazia regularmente um exercício com
os meus alunos. Vou trocar as personagens:
Imagina que vives num prédio com três andares e certo dia
tens de pedir a um vizinho que tome conta da tua filha menor por uma tarde. No
rés do chão direito vive uma família cigana, no esquerdo vive um padre. No
primeiro esquerdo vive um rapaz de 21 anos que trabalha no apoio ao cliente
numa empresa conhecida. Ao lado vive um casal discreto. No segundo esquerdo
vives tu, tendo como vizinhos, no lado direito, uma mulher de 30 anos com os
seus 4 filhos. Por cima de ti vive um piloto de aviões e ao lado, no terceiro
direito, um senhor embaixador. A pergunta é: a quem pedias que tomasse conta da
tua filha?
Ninguém escolhia a família cigana, sendo vários os que
optavam pelo padre sem saberem que se tratava do padre Luís Mendes, condenado a
10 anos de prisão por 19 crimes de abuso sexual de menores. Outros escolhiam a
vizinha do segundo direito, Brittany Tucker, uma norte-americana que se
suicidou depois de assassinar os 4 filhos e uma vizinha. O rapaz de 21 anos é
Anders Behring Breivik, o casal discreto é Pedro Dias e a mulher, o piloto de
aviões é Andreas Lubitz e o embaixador, ao cuidado de quem alguns alunos
deixariam os seus filhos, é Jorge Ritto. Era muito provável que, por causa de
preconceitos estúpidos que nos toldam inúmeras decisões, a nossa pobre criança
se queixasse de dores quando regressasse aos nossos braços.
Racismo é mais ou menos isto, condenar o outro ao
sofrimento por sermos incapazes de olhar uns para os outros com empatia. É uma
palavra bonita, procurem o seu significado. E apliquem na vida, porque não
tarda muito estarão todos mortos. Se é que não estão já.
2 comentários:
...antes de ler a parte de "Ninguém escolhia a família cigana(...)" já tinha decidido que poderiam ser todos menos o padre... (paga o justo pelo pecador...? ;-) )
Grande Henrique!
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