sábado, 1 de agosto de 2020

É PRECISO TER ESPERANÇA



Os últimos 35 anos da democracia portuguesa foram um sonho. Tivemos um Nobel da Literatura, a Expo 98, várias capitais europeias da cultura, ganhámos o Euro de futebol aos franceses, fartámo-nos de semear o futuro com património cultural imaterial da humanidade. O que seria de nós, por exemplo, sem a arte chocalheira? Portanto, o que aí vem só pode ser deveras animador. Eu, para já, vou de férias. Não levo benzodiazepinas na bagagem, benza-as deus, o que faz de mim uma criatura excepcional. Mas levo, a tilintar repetidamente no fundo do coração, a frase, a grande frase, a frase que melhor nos identifica neste tempo que passou: “Enfim, é fazer as contas.” Se bem se recordam, foi proferida há anos pelo actual secretário-geral da Organização das Nações Unidas. Um bom homem, muito amigo do seu amigo padre Melícias. Estamos bem entregues. Também levo livros, a pior invenção da humanidade, para equilibrar alma e corpo. Estou com cabeça a menos para a barriga que ganhei no último ano. Quero ver se arranjo cognomes para tanto aristocrata à minha volta. Uma pessoa até fica sem saber como se comportar, tantos são os príncipes e as princesas desta chafarica chamada Portugal.

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