OS HOMENS EM QUEDA
Deus e todos os anjos adormecem o mundo cantando-o.
Agora que a lua se ergue no estio
E os grilos se ouvem de novo na erva. A lua
Incendeia a mente em lembranças perdidas.
Ele deita-se e o vento da noite sopra sobre ele aqui.
Os sinos alongam-se. Isto não é sono. Isto é desejo.
Ah! Sim, desejo... este inclinar-se na sua cama,
Este inclinar-se sobre cotovelos na sua cama.
Fitando, à meia-noite, a almofada que está escura
No quarto catastrófico... para lá do desespero,
Como um instinto mais intenso. Que deseja ele?
Mas isto ele não pode saber, o homem que pensa,
Porém a vida ela mesma, a satisfação do desejo
No triturante ric-rac, fitando sem hesitar
A cabeça sobre a almofada no escuro,
Mais que sudário, dizendo o discurso
Dos absolutos, sem corpo, uma cabeça
De lábios curtidos pela sedição e indomáveis gritos,
A cabeça de um dos homens em queda, sobre
A almofada jazendo para repousar e falar,
Falar e dizer as sílabas imaculadas
Que ele apenas falou fazendo o que fez.
Deus e todos os anjos, isto era o seu desejo,
Cuja cabeça jaz toldando-se aqui, por isto ele morreu.
Sabor do sangue sobre os seus supliciados lábios,
Ó assalariados!, Ó demagogos e homens pagos!
Esta morte foi a sua crença embora a morte seja uma pedra.
Este homem amava a terra, não o céu, o suficiente para morrer.
O vento da noite sopra sobre o sonhador, dobra-se
Sobre palavras que são a loquaz proposição da vida.
Wallace Stevens, in O Homem da Guitarra Azul & Outros Poemas, tradução de Luís Quintais, Edições Guilhotina, Junho de 2015, pp. 54-55.
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