Em memória de Bobby Timmons
que morreu de cirrose aos 38 anos.
Caminha a esmo na tarde
chuvosa, atento às botas que escurecem à medida que a água ensopa a pele. A
calçada irregular influencia o passo, imprime um modo trôpego na marcha que em
nada corresponde à introspecção do caminhante. A dado momento queda-se a olhar
à volta, como se o preocupasse a hipótese
de estar a ser observado. É então que os seus olhos se cruzam com os meus. Vem
na minha direcção, desenhando no alcatrão encharcado uma rigorosa linha recta.
Estou na soleira de um prédio a fumar o segundo cigarro de três que estou
autorizado a fumar, aguardo que me chamem para consulta de rotina. Aproxima-se
com os olhos colados aos meus. Fico expectante, uma aragem de incerteza trespassa-me
o corpo. Pára a um metro de mim, curva-se ligeiramente e geme como o céu
naquela tarde cinzenta: «eu não estou bêbado». Alguém reclama a minha presença
na clínica, ele observa-me a entrar no prédio como se estivesse a olhar para um
animal que se recolhe cobardemente num covil.
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