Olhando para 2016, percebemos melhor quanto valem. Este
ano, foram votar menos 478 741 portugueses. Estavam mais inscritos, mas foram
menos os votantes. Para onde foram os votos de Sampaio da Nóvoa (1 061 232), Maria
de Belém (196 687), Paulo de Morais (99 974), Henrique Neto (38 973), Jorge
Sequeira (13 767) e Cândido Ferreira (10 585)? Estamos a falar de 1 421 218
votos, não é coisa pouca.
541 345 terão ido para Ana Gomes. Sobram 879 873.
122 147 terão ido para Marcelo. Sobram 757726.
134 427 terão ido para Tiago Mayan. Sobram 623 299.
E foi a estes que Ventura foi buscar os seus 496 653
votos. Muito pouco, se considerarmos que 126 646, o que sobra, mais 304 795 (os
que Marisa teve a menos), mais 2525 (os que João Ferreira perdeu em comparação com
o resultado de Edgar Silva), mais 29 346 (os que Vitorino Silva Perdeu), somam:
463 312. É praticamente o resultado de Ventura.
Ou seja, os portugueses que não puderam ou não quiseram
votar nestas presidenciais e tinham votado em 2016 são praticamente tantos
quanto os que votaram em Ventura. Em legislativas, aqueles votos valerão menos
do que em 2011 valia o CDS-PP com o populista Paulo Portas. E é deste CDS-PP esfrangalhado que vêm os
eleitores do Chega, assim como de algum PPD-PSD mais direitista, partido que,
de resto, foi a barriga de aluguer de André Ventura. Já agora, quem disse isto
mesmo ontem, e bem, e com clareza inquestionável, foi António Lobo Xavier.
Honra lhe seja feita por reconhecê-lo. Basta pensarmos em figuras como Nuno
Melo e Telmo Correia, que bem podiam ser do Chega, para percebermos melhor
o que o Chega é: direita ultraconservadora, pró-vida, que se sente ameaçada por leis do piropo e pela adopção de uma linguagem inclusiva, adoram touradas e Salazar, à qual se juntam meia dúzia de neonazis broncos que andavam pelo PNR e coisas congéneres e têm orgasmos quando ouvem o Ventura chamar subsidiodependentes aos ciganos, bandidagem aos pretos, defendendo coisas como a castração química e a prisão perpétua.
Agora o Alentejo e a retórica estafada de que o PCP perde
para o Chega no Alentejo. Olhemos para Beja como exemplo. Os resultados de João Ferreira só são decepcionantes
porque desejávamos e merecia melhor, mas há que colocar os números em
perspectiva. Em Beja, João Ferreira consegue menos 1413 votos do que Edgar
Silva. Marisa Matias perde 4846 votos. Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém,
candidatos afectos ao PS, valiam neste distrito 21816 votos. Ana Gomes teve
5613. Marcelo consegue mais 7999. Será mesmo o PCP quem está a perder para o
Chega?
O Alentejo já não é o que era, convertido hoje a estância turística, entregue a latifundiários (subsidiodependentes) que empregam gente vinda da Índia, do Bangladesh, do Sri Lanka, isto é, gente que não vota. Ventura teve 8490 votos em Beja, o que terá conseguido graças ao seu discurso xenófobo, racista, anti-imigração, e ao descontentamento de uma população votada ao esquecimento e ao abandono pelo Bloco Central. Mesmo aceitando, por absurdo, que os 1413 votos que João Ferreira perdeu em Beja foram todos para Ventura, então de onde vieram os restantes 7077? Alguém em Beja deu mais votos a Ventura do que o candidato apoiado pelo PCP. Isto é óbvio e desmente a retórica instalada de que os votos do PCP estão a deslocar-se para o Chega. É uma análise que vale igualmente para Évora e para Setúbal, assim como para Portalegre. Não vale para Faro, pois aí João Ferreira teve mais 897 votos do que Edgar Silva tinha almejado em 2016.
Dito isto, julgo que seria importante reforçar a ideia de que o Chega e André Ventura têm beneficiado altamente com uma comunicação social que faz da vida política um reality show. Ventura vende, como a pornografia vende, como o Big Brother vende. É preciso que comentadores políticos e jornalistas e demais gente por aí excitadíssima com Twitter e Facebook e quejandos, metam na cabeça que a relevância atribuída a André Ventura e ao gangue que ele representa é altamente desproporcional ao que ele vale na realidade. 3 milhões e 700 mil eleitores, dos pouco mais do que 4 milhões que foram votar, disseram claramente que não se revêm na demagogia racista, xenófoba, securitária e messiânica da extrema direita populista. E isso é altamente positivo.
A luta continua.
¡No pasarán!
25 de Abril sempre!
Fascismo nunca mais.
6 comentários:
No pasarán!
Ventura é um fenómeno parido pelo PSD e alimentado pela comunicação social.
No pasarán!
Ventura é um fenómeno parido pelo PSD e alimentado pela comunicação social.
Daí ate a direita ter sido esmagada vai uma grande distância! Em portugal a direi vai sempre há e pergunta é: se ainda ou se alguma vez houve esquerda nesse país?
A direita tem sempre vantagem quando prevalece a ignorância em todos os níveis... e a "esquerda"adormeceu na cantilena da "democracia"!
vale a pena sonhar, mas não dormir não vá um dia um gajo não acordar!
saúde!
Não é a direita, é a extrema-direita, a do candidato presidencial que afirmou que, em sendo eleito, não seria o presidente de todos os portugueses, mas apenas dos portugueses de bem, reforçando que os de mal eram os que não estavam com ele. Nota-se a diferença?
ahahaha! A diferença entre direita e extrema-direita é mínima, é uma "tesãozinha" que é fácil ocultar por ser tão pequena. Este andarilho resolveu vir para a rua nu e gritar ao mundo que estava excitado...mas sim nota-se alguma diferença! Eu estou fora vejo as coisas à distância não apanho tudo.
Abraço
O problema é que Ventura acendeu um fogo no qual outros ficaram com vontade de se aquecerem.
Não podemos baixar a guarda!
Boa noite, hmbf.
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