Que haverá de ti no meu sangue?
Arrisco a hipótese hereditária, mas logo se impõe a ideia de que as
circunstâncias desenham a coluna. As tuas foram mais agrestes, reconheço. Os
cientistas têm percentagens para estas coisas. Olhando para o nosso caso, diria
que nada de vocação, um cibo de valores e talvez mais do que possa parecer
daquela timidez a que alguns chamam complexo de inferioridade por serem heróis
e nunca haverem experimentado a acidez e a injustiça e o opróbrio da soberba a
perfurar os pés como um ferro enferrujado. Vem de longe. Crescer pobre em terra
de porcos incube frustrações, um ódio que se enterra na lama sem vontade de
vingança. Acerca de valores, assumamos
pouco mais do que uma carcaça de intolerância ao erro que eu aprendi a mastigar
mais para te incomodar do que para me resolver. Chamar-se-á o quê a isto? Obstinação?
Nunca te perguntei o que pensarás de mim, que julgarás das opções que tomei na
vida ou das que fui levado a tomar por me deixar levar pela corrente de paixões
momentâneas. É assim e só damos por isso quando, já em alto mar, temos de esbracejar
em busca de um pouco de terra onde possamos voltar a sentir-nos verticais. A
verdade é que, por vezes, gostava de poder perguntar-te se já ouviste o álbum
do Eric Mingus, mas noutras ocasiões dou graças a Deus por nem sequer fazeres
ideia do que a música possa ser.
terça-feira, 19 de janeiro de 2021
HIS BLOOD’S IN ME (1999)
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