quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

CARNIVAL SONG (1967)

 


Entraram dois homens em casa, não me recordo de alguém lhes haver aberto a porta, vinham arranjar o telhado, calafetar, vedar, diziam, antes que comece a chover. Subiram ao telhado e por lá ficaram a trabalhar na sua obra enquanto no andar de baixo a vizinha remodela o chão. Entre chão e telhado, a mulher 24h por dia a tratar das suas timesheets ao telefone. Tempos de merda. Será? A filha mais velha está em aula de canto, a cadela ladra, a filha mais nova pratica violino, a cadela ladra. Tapo os ouvidos com Tim Buckley e finjo estar tudo bem, tudo certo, é só um achaque passageiro, o mundo continua a dar as suas voltas e o sol não sai de onde está e, se tudo correr bem, dentro de 5000 milhões de anos isto vai passar, passa sempre, tudo passa. Na televisão anunciam a possibilidade de meter gente em Marte. Porra, levem-me já antes que alguém chegue. Deixem-me lá ficar com a minha colónia de caracóis e corninhos ao sol. Ou então façam menos barulho, por favor, que eu tenho uma canção para ouvir.

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