O Governo desculpou-se com uma imposição do PR: temos de abrir excepção para os livros escolares. Os da Porto Editora, portanto. Excepcionais exceções. Sobre as desculpas do Governo, tratado de alienação cultural, e a imposição de Marcelo, programática, muito haveria a dizer não tivesse o mordomo sido enterrado com honras de Estado. Portugal fede, é um fedor a bufos e a mofo proibicionista, fascista, racista, elitista, que não se pode. A excepção para os livros escolares lembrou-me uma que tive com a polícia do fisco. No meu primeiro ano de trabalho, era eu professor estagiário, trabalhador e estudante ao mesmo tempo, declarei aquela coisa do IRS. À época tudo em papel, molhos de facturas consumidas pela humidade, tinta Bic a desfazer-se em tom azul celeste. Fui chamado a depor. «O senhor tem para aqui um conjunto vasto de despesas que não entram». Bela introdução à sexologia fiscal: despesas que não entram, o buraco é estreito, fica quase tudo de fora. Quais, perguntei. Eram livros. Mas os livros técnicos não entram? «Esses entram, são ágeis e maneirinhos, mas estes não são técnicos». Para mim são, insisti. Era professor de filosofia, os meus livros técnicos podiam ser tanto a "Fundamentação da metafísica dos costumes" como o "Cunnus - Repressão e Insubmissões do Sexo Feminino". O especialista dizia que não, para ser técnico tinha que vir discriminado livro técnico. Isto é, nem uma factura era de livro técnico porque faltou-me a técnica de solicitar no acto de compra que especificassem a tecnologia do livro para que os tecnocratas das finanças pudessem excitar-se. Aquilo deu num grande berreiro, discussão interminável, eu a saltar para lá do balcão com ganas de desfazer o gasganete ao fiscal. O tipo a pedir-me que falasse baixinho, que ele é que sabia o que era ou deixava de ser técnico. Assim o PR e o Governo, todos eles técnica e escola. Cunnus a menos?
1 comentário:
Fede a bufos e a bafio sim, o caminho para a putrefação alarga-se.
Cunnus como livro técnico parece-me excelente. Sorrio ao relembrar a excelente jogada de marketing de alguém, da editora do dito, que numa certa feira do livro ofereceu um exemplar à senhora que me acompanhava... Brilhante.
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