Ouçam música, evitem as ruas fechadas. A música tem estradas largas, avenidas longas, abertas, ladeadas por explanadas efervescentes de riso. Inventem conchas com as mãos e tapem os ouvidos, fechem os olhos, calem-se, escutem. O mar ressoa dentro de quem escuta, a música tem pássaros, agita as asas do vento e faz dançar árvores rizomáticas com ninhos de cumplicidade nos galhos e frutos que não apodrecem. Ouçam. Overdoses de Eddie Durham, injecções de Buster Smith, nada de gloriosas paisagens manchadas de gente que não interessa. Afastem-se dos bichos intoxicados de si mesmos, são poluentes como o trabalho, passam o tempo agitados nas extravagâncias do futuro, muito inquietados por ninguém lhes prestar a atenção que julgam merecer, coitados, constantemente empenhados em destruir os edifícios dos outros com balas de borracha. Ó palermas, ouçam música, divirtam-se, está tão afoita a mortandade que se torna burlesco ouvir-vos as queixas. Olá a todos, a música não tem números de página nem lombadas. Ninguém se fere com o nome dos mortos. O que vos inquieta, ó patéticos? Dancem. Não têm pernas? Inventem-nas.
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