Em memória de Chick Corea (m. 9/02/2021)
Ontem a terra tremeu. Estava a ver um western quando a senti tremer. Por instantes julguei tratar-se de um efeito tridimensional da cavalgada no ecrã. Tom Hanks tentando controlar uma carroça em vertiginosa descida a pique. Muita coisa pode passar-nos pela cabeça numa fracção de segundos. O prédio a descolar como uma nave a caminho dum planeta distante, habitado por mulheres com colares de mamas à volta do tronco, sem costas, todas feitas de peitos insaciáveis, faces à volta de faces, pés com forma de girassol, esféricas, belas. Um planeta sem homens. Perfeito, portanto. Perfeito de animais cúbicos como as pinturas de Picasso, sem língua, falando por meio de sons. Seres-saxofone, seres-piano, seres-bateria, seres-trompete, seres-guitarra, uma orquestra de seres comunicando harmónica e melodiosamente. E no lugar das árvores melopeias irrompendo do céu, onde têm raízes, largando frutos com a forma de nuvens. As coisas que nos passam pela cabeça numa fracção de segundos. A terra tremeu e eu temi que fosses tu a bater à porta explicando que o movimento do planeta, afinal, não é rotativo, mas uma espécie de vibração, um chocalho, gelo num misturador. Eu sempre acreditei que Deus fosse barman, mas o filme chama-se News of the World. E está tudo na mesma.
Sem comentários:
Enviar um comentário