quinta-feira, 4 de março de 2021

OFF TO THE RACES (1958)

 


Nenhum outro foi tão bem fotografado, disseram-me. Pouco me importava. Quando ouço música não idealizo sequer as feições de quem está por detrás dos instrumentos. A aparência é cartão-de-visita da música pop, daí o investimento no estilo. Ídolos inspiram tendências, o mercado das canecas está atento.



Como contrariar a existência de sabonetes com caricaturas de Pessoa e de Sophia? Tenho noção de que a maioria das pessoas que exibe o rosto de Che em camisolas, malas, adereços, não faz a mínima ideia de quem foi o revolucionário sul-americano. Vestem aquilo como podiam vestir estampados de cornucópias.



Uma vez meti conversa com uma rapariga por causa da t-shirt que ela trazia vestida. As silhuetas de Tommie Smith e John Carlos a negro sobre fundo amarelo, de punho erguido no pódio com as luvas calçadas. Sucede que na t-shirt eram três os desobedientes de punho alevantado, quando na verdade a medalha de prata tinha sido entregue a um australiano sem luvas, de braços caídos, ainda que solidário com a causa dos direitos civis nos EUA.



A rapariga não fazia a mínima ideia do que eu estava a falar, pelo que mudei de assunto. Disse-lhe que dez anos antes Donald Byrd tinha gravado Off to the races e eu estava convencido de que aquele título podia ter vários significados porque races tanto podia remeter para corridas como para raças e… a rapariga encolheu os ombros, voltou-me as costas e foi à vida dela.



Sempre fui desastroso em modalidades olímpicas. 

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