quinta-feira, 25 de novembro de 2021

OLIVER GOLDSMITH

 


«As Dificuldades do Autor Contratado» recapitula tópicos que, desde o último quartel do século XVII, tinham passado a caracterizar o labor literário. Para Goldsmith, as transformações do modo de produção literário decorreram da transformação da escrita num ofício mecânico e das consequentes alterações do ritmo e das relações de trabalho. A relação assalariada entre editor e autor, instituída por um mercado que é preciso alimentar constantemente com novas mercadorias, substituíra o patrocínio. Esta alteração das relações sociais de produção e do ritmo de trabalho tivera consequências nos géneros literários: a poesia fora substituída pela política e pela crítica, uma alusão ao mercado cada vez mais importante da imprensa periódica. A lógica da expansão comercial levava mesmo a que os autores alienassem o seu juízo crítico, vendo-se constrangidos a promover um livro para servirem o editor de quem dependiam. 
   A relação monetária mercantil perturbou também as hierarquias sociais, uma vez que o editor, que dirige a produção e interfere na escrita, tem geralmente uma instrução rudimentar e inferior à do autor. Além disso, a própria classe dos autores tem agora outra composição social. Goldsmith contrapõe o poeta, isto é, a identidade autoral clássica, ao autor, isto é, à identidade autoral estabelecida pela participação no comércio das letras. Integrando-se no processo genérico de valorização das formas de riqueza comercial numa economia capitalista, a arte literária deixara assim de ser apanágio dos gentlemen, tanto no caso dos editores como no caso dos autores.

Manuel Portela, in O Comércio da Literatura - Mercado e Representação, Edições Antígona, Outubro de 2003, p. 12.

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