Explicava ontem a uns comensais com que argumentos tentava combater, quando era professor, o preconceito segundo o qual a filosofia não serve para nada. É a ciência com a qual e sem a qual nós ficamos tal e qual. A questão, normalmente, surge no âmbito da separação sempre muito útil (estou a ser irónico) entre ciências e artes. Qual o lugar da filosofia? É coisa que nunca me preocupou particularmente, mas sinto cada vez mais que falta a muita gente próxima um “niquinho” de formação filosófica. Então atiro para a mesa uma notícia do dia. Por exemplo, este é o sexto inverno mais seco desde 1931. Começa tudo a discutir o tempo. Uns, apocalípticos, dizem que é o fim do mundo a aproximar-se. Outros, indignados, centram o discurso nas alterações climáticas e na política ecológica. E há deles, trágicos, que lamentam os pobres animais a morrer de sede enquanto emborcam mais uma garfada de secretos e um trago de tinto. Estão todos certos porque têm as suas razões, mas, e nisto há sempre um mas a incomodar, esqueceram-se do básico: questionar a validade da primeira premissa. O que quer dizer aquela notícia? Como eram os invernos antes de 1931? Qual foi o quinto mais seco? E nos últimos 20 anos, em que posição fica este ano? E qual foi o mais seco dos últimos 100? Em comparação com o actual, como foi? Etc. Aí tendes a relevância da filosofia: desatar um rol de dúvidas e de interrogações, em busca de uma verdade que não fique pela rama da ideia feita mas vá à raiz do problema. Uma chatice, portanto, num mundo cada vez mais atreito a parangonas e chavões. Cansativo, mas sempre evitaria que passássemos a vida a comer gato por lebre.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2022
INVERNOS
Explicava ontem a uns comensais com que argumentos tentava combater, quando era professor, o preconceito segundo o qual a filosofia não serve para nada. É a ciência com a qual e sem a qual nós ficamos tal e qual. A questão, normalmente, surge no âmbito da separação sempre muito útil (estou a ser irónico) entre ciências e artes. Qual o lugar da filosofia? É coisa que nunca me preocupou particularmente, mas sinto cada vez mais que falta a muita gente próxima um “niquinho” de formação filosófica. Então atiro para a mesa uma notícia do dia. Por exemplo, este é o sexto inverno mais seco desde 1931. Começa tudo a discutir o tempo. Uns, apocalípticos, dizem que é o fim do mundo a aproximar-se. Outros, indignados, centram o discurso nas alterações climáticas e na política ecológica. E há deles, trágicos, que lamentam os pobres animais a morrer de sede enquanto emborcam mais uma garfada de secretos e um trago de tinto. Estão todos certos porque têm as suas razões, mas, e nisto há sempre um mas a incomodar, esqueceram-se do básico: questionar a validade da primeira premissa. O que quer dizer aquela notícia? Como eram os invernos antes de 1931? Qual foi o quinto mais seco? E nos últimos 20 anos, em que posição fica este ano? E qual foi o mais seco dos últimos 100? Em comparação com o actual, como foi? Etc. Aí tendes a relevância da filosofia: desatar um rol de dúvidas e de interrogações, em busca de uma verdade que não fique pela rama da ideia feita mas vá à raiz do problema. Uma chatice, portanto, num mundo cada vez mais atreito a parangonas e chavões. Cansativo, mas sempre evitaria que passássemos a vida a comer gato por lebre.
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