terça-feira, 16 de agosto de 2022

COISA NENHUMA

 


coisa nenhuma
 
de lá para cá na sombra do interior para a sombra exterior
 
do eu impenetrável ao impenetrável não-eu como forma de coisa nenhuma
 
como que entre dois refúgios cintilantes cujas portas uma vez próximo, se fecham suavemente, uma vez afastado, de novo se abrem suavemente
 
acena para a frente e para trás e vira-se
 
desmiolado nos modos, opta por uma cintilação ou pela outra
 
passos inaudíveis apenas som
 
até que por fim pára decidido, para sempre ausente do eu e outro
 
então nenhum som
 
então luz suavemente inalterável naquela coisa nenhuma despercebida
 
casa indizível
 
Originalmente publicado em 1979, este texto esteve para ser incluído numa colectânea de poesia de Samuel Beckett. O autor resistiu à inclusão por considerá-lo um texto em prosa, uma história. Escrito em 1976 para ser musicado pelo compositor norte-americano Morton Feldman (1926-1987). Versão de HMBF.

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