terça-feira, 2 de agosto de 2022

MARCELO A MARTELO

 
   Quando eu era um jovem rapaz, deleitava-me com filosofia da linguagem, retórica e lógica aristotélica. Depois cresci e comecei a apreciar polémicas nos weblogs, até que estupidifiquei e fui parar ao Facebook.
   As polémicas no Facebook são, mais bloqueio, menos bloqueio, como esta conversa que há dias tive com um amigo. Tentava explicar-lhe porque razão a democracia está longe de ser democrática, recorrendo a exemplos práticos com números.
   Num universo de 10, vá lá que votem 5. A outra metade fica em casa. Dos 5 que votam, 1 é percentagem de nulos e brancos. Restam quatro. Destes 4, 2 disseminam-se pelos diversos partidos derrotados em percentagens mínimas e os restantes 2 concentram-se no vencedor. Portanto, a democracia não privilegia a maioria, mas sim a concentração. É um sistema de enlatados e de conservas. Os 2 concentrados ficarão com o poder, contra os restantes 8.
   O meu amigo retorquiu, argumentando que quem não participa não conta. Logo, os brancos, nulos e abstencionistas não deviam entrar nas contas. Não tinham nada que ver com os assuntos do Estado. Bico calado.
   Sabendo eu que ele é um acérrimo animalista, perguntei-lhe se alguma vez tinha ido a uma tourada. Respondeu negativamente, já um pouco alterado. Questionei, então, porque raio havia de levar em conta a opinião dele sobre touradas. Se em democracia apenas conta quem participa, se quem não participa não tem direito a queixinhas, então quem não vai a touradas também não devia ter nada que ver com os assuntos dos touros. Ficou muito zangado comigo, acusou-me de estar a desconversar. Convenci-me mesmo de que, tivesse esta conversa sido no Facebook, eu acabaria bloqueado.
   Vim para casa a pensar na democracia portuguesa, nos 20 anos de Cavaco, nos 6 anos de José Sócrates. E agora o Marcelo. Caramba, os eleitores portugueses têm mesmo mau gosto. Dir-me-ão que não fossem estes, seriam outros piores. É como tudo, pode sempre ser pior, o que não quer dizer que não seja péssimo. Vejam bem a desgraça que é estarmos sempre a desculpar Marcelo porque Cavaco era pior. Isto de passar a vida a justificar males com males maiores ainda vai acabar mal.

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