Não gosto de aniversários nem de efemérides, de dias marcados para o riso, o tempo medido com régua e esquadro, anos sobre anos planificados em Excel, da passagem de ano a mais um ano passado, para logo se meter o Carnaval com seus três exactos dias de alegria e fantasia, seguidos da meditativa Páscoa em que é suposto reflectir mais e enfardar menos, período de autoflagelação por respeito ao sacrifício do homem que julgava ser filho de uma virgem, esta curva oscilante de hipocrisias, falsidades, dissimulações, não gosto da barriga farta às voltas com comezainas em feiras e festivais, os das tascas de cebolada, dos cavalos, dos chocolates, das pêras e das caças e das idades médias e tudo quanto possa ser pretexto para transformar parques e jardins em salas de espectáculo, as férias de Verão matematicamente enxertadas de sunset parties antes de um homem cair de trombas por ter de regressar ao trabalho, à modorra, ao quotidiano entediante das vidas vidinhas enfileiradas à porta das fábricas e das escolas e dos centros comerciais, uma depressão gloriosa preparando-se para louvores à caridade, encómios à benevolência, com natais despesistas e luxuosos e ofensivamente ostensivos para deleite de comércios e economias, o luxo, o lixo, a toalete latejando a puta da vaidade que nos há-de matar a todos. Prefiro mesmo ficar por aqui, acompanhado por Ella a cantar “I’ve Gotta Be Me” de Walter Marks, “Don’t Worry ‘bout Me” de Rube Bloom, com letra de Ted Koehler, coisas assim.
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