Não estás comigo, estás contra mim. Ou: não és por mim,
és pelos meus inimigos. Este tipo de mentalidade, típica do hooliganismo (não
tem outro nome), está agora muito em voga, legitimada e praticada por todo o
tipo de gente. Nunca vi nada semelhante em 48 anos de vida e, a bem dizer, tem
sido uma experiência nova altamente reveladora da degradação moral a que
qualquer pessoa pode sujeitar-se a partir do momento em que consente este tipo
de mentalidade. Isto, que agora se aplica ao conflito em curso na Ucrânia, e
nunca vi semelhantemente aplicado a nenhum outro conflito ou polémica, fosse
nas discussões acesas sobre a IVG ou a participação portuguesa na invasão do
Iraque, touradas em Barrancos ou coisa que o valha, é fenómeno que só me
recordo de ver entre claques de futebol. Como para os grunhos do futebol tenho
vários anticorpos, terei agora de arranjar maneira de me proteger dos burgessos
da política internacional. E há tantos e tão especializados que uma pessoa até
fica zonza. A mim é que não apanharão nestas dicotomias. Não precisei de ser a
favor de Saddam Hussein, para estar contra o que o quarteto Bush, Blair, Aznar
e Barroso foram fazer ao Iraque. E jamais me ouvirão defender que a solução
para a Palestina está em encher de armas o Hamas. No entanto, acho que já
estive mais longe de escarrar na cara ou dar umas bofetadas valentes em alguém
que me acuse de putinismo ou de defender a invasão da Ucrânia só porque cometo
esse crime de lesa diafaneidade que é, por exemplo, não ver sentido nenhum na
presença da Ucrânia na Feira do Livro de Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário