terça-feira, 6 de setembro de 2022

LILLIE (1952)

 


Qual a origem da angústia que amiudadamente envolve certos homens como um manto de maresia numa noite de Verão? Talvez da percepção do desgaste que anuncia o fim, talvez da monotonia que a idade incrusta em cada um dos números do calendário afixado na parede, talvez do clima a incerteza abatido sobre uma ideia de futuro. Ou tudo isso ou nada disso. Pessoas há que nos inspiram confiança até começarem a olhar-nos com desconfiança. A sobranceria não é exclusiva das estrelas, essas brilham num céu por vezes tapado por nuvens densas. A distância que nos separa é tanta que nem damos por ela. Não. Há também a sobranceria da idade mal resolvida, é fodido chegar a velho sem crédito no cartão. Sentes-te legitimado a fazer todo o tipo de patifarias para obteres saldo que permita mandar vir uma garrafa de vinho italiano sem estares preocupado com o preço. Tenho notado isso com certo desgosto, o modo altivo de abordar quem serve à mesa, aqueles tiques tirânicos de considerar alguém inferior por ter, como disse, trabalhos de merda?! Paga-se caro na simpatia, aqui para estes lados, essa falta de humildade, uma simplicidade de papel e cartilha, mais um certo oportunismo que consiste em usar e deitar fora, tratar as pessoas como se fossem descartáveis. Não pode ser assim. Tem de ser assim? O líder da orquestra que confesse se é só no palco a representação ou se toda a vida se encena a bem de proveitos próprios com redistribuição pelas conveniências. Agora vou ouvir Milt Jackson e tentar não pensar mais no assunto.

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