Talvez não saibam que o filme “O Vale era Verde” (1941) esteve para ser realizado por William Wyler (1902-1981). Divergências com o produtor Darryl F. Zanuck (1902-1979) acabaram por afastá-lo, tendo a opção recaído sobre John Ford (1894-1973). No centro da discussão esteve o argumento baseado num romance de Richard Llewellyn (1906-1983). O livro é sobre a vida numa cidade mineira do País de Gales, mas os produtores não queriam que o argumento inspirasse polémicas acerca dos direitos dos trabalhadores. A questão laboral, central no livro, deveria ser acessória no filme. Quando ouvirem falar na máquina de propaganda de Hollywood pensem nestas coisas. A Inglaterra estava em guerra com a Alemanha nazi. Os americanos, neutrais até aos ataques japoneses de Pearl Harbor, em Dezembro de 1941, não queriam ferir susceptibilidades inglesas. Com Ford a conversa foi outra: «Antes do início da produção, a Fox estava nervosa em relação o filme, em particular, no respeitante à possibilidade de haver linguagem anti-britânica nas cenas da greve dos mineiros. Nessa altura da rodagem, um produtor escreve a Zanuck: «Não é oportuno fazer este filme agora. Não se devem atirar pedras à Inglaterra. Adie-se para depois das hostilidades.» Zanuck não lhe dera ouvidos, e Ford, numa das suas poucas revisões textuais do guião, atribuíra uma importância acrescida à greve, parafraseando a linguagem pró-sindicalista de Roosevelt no diálogo dos mineiros. Nas suas mãos, o clã galês no centro do enredo tornou-se, em espírito, semelhante à sua família irlandesa. Ford contou mais tarde que a actriz Sara Allgood, que fazia de matriarca, «parecia a minha mãe e eu pu-la a agir como a minha mãe». Toda e qualquer preocupação que a Fox pudesse ter sentido desapareceu quando Zanuck viu que, mesmo a preto e branco e com um orçamento muito mais modesto do que o previsto, Ford criara uma saga familiar exuberantemente emocional e comovente.» (Mark Harris, “Os Cinco Magníficos”) E assim os bons sentimentos da humilde família de mineiros, a par dos conflitos morais na cabeça do pároco da povoação galesa, disfarçaram a luta dos trabalhadores num contexto de extrema opressão e até de humilhação. Tudo equilibrado, pôde o filme avançar para o sucesso na bilheteira e junto de uma crítica que também não estava muito interessada nas condições de trabalho nas minas do País de Gales.
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