Estou aqui a inventariar o número de vezes que, em quase
48 anos de vida, ouvi ou li que o mundo nunca mais seria o mesmo. Cai um muro e
o mundo nunca mais será o mesmo, caem torres no centro de Nova Iorque e o mundo
nunca mais será o mesmo, invade-se um país e o mundo nunca mais será o mesmo.
No entanto, isto parece-me sempre tudo muito mais do mesmo. Se um muro vem
abaixo, logo outro é erguido. E assim sucessivamente. Hoje também já ouvi muita
gente dizer que a morte da senhora lá das inglaterras é o fim de uma era.
Caramba, 'inda há dias ouvi o mesmo a propósito do desaparecimento de
Gorbachev. Em 2020 as Kardashians também marcaram o fim de uma era, o ano
passado foi na Fórmula 1. Em 2019 foi a SIC a pôr fim a uma era quando
ultrapassou a TVI nas audiências. Em 2018 houve o fim de uma era na democracia
brasileira. Enfim, estão sempre a terminar eras. Isto corrobora a tese inicial,
o mundo afinal não muda nada, é este perecer de eras umas atrás das outras. Na
verdade, o fim de uma hera está quase sempre no fungo Colletotrichum trichellum
(ou C. gloeosporioides). Disto ninguém fala. Tristeza.
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