Tenho uma história com uma rainha, a das bifanas. Esta história é a mais pura das verdades. Se não acreditam, perguntem ao Rui. Foi das últimas vezes que me levaram à bola. Para quem desconheça, há toda uma liturgia anterior ao jogo que passa por enfardar bifanas e beber minis. O Rui levou-me à Rainha das Bifanas, uma roulotte nas imediações do Alvaláxia. Foi já nos tempos do estádio novo, depois do Estado Novo. Lá estava eu ao balcão da Rainha das Bifanas, aguardando vez com os olhos postos no serviço, quando reparo nas axilas fartas da Rainha. A Blaya ainda não existia. Tudo bem, a mulher não se rapa, é à moda antiga. Vai disto, reparo que enquanto sua alteza enchia a carcaça com bifes guardava já outra apertada no sovaco. Isso mesmo, ela ia metendo carcaças na sovaqueira como quem, sei lá, as insere numa das fases da linha de montagem. Sacava duas carcaças de um saco, apertava uma debaixo do sovaco e enchia a outra. Passava esta ao cliente, pegava na que aguardara vez no regaço axilar, enchia, servia. Pois que me calhou uma dessas bifanas. Você não está à espera que eu coma isso, pois não? Perguntei. Ó filho, olha que sou limpinha, e já comi coisas bem porcas. Arguiu. Senti-me observado pelos restantes comensais. Ali estava eu, feito burguês, a protestar da bifana sovacada. São momentos que nos incomodam, sabem como é. O mesmo que andar perdido no interior de uma floresta, ser acolhido por uma tribo e torcermos o nariz às papas de miolo de macaco servidas em folha de palmeira com insectos salteados. Pedi mais uma mini, fechei os olhos, comi a sandes. Estava boa. É esta a minha história com rainhas.
quinta-feira, 8 de setembro de 2022
RAINHA DAS BIFANAS
Tenho uma história com uma rainha, a das bifanas. Esta história é a mais pura das verdades. Se não acreditam, perguntem ao Rui. Foi das últimas vezes que me levaram à bola. Para quem desconheça, há toda uma liturgia anterior ao jogo que passa por enfardar bifanas e beber minis. O Rui levou-me à Rainha das Bifanas, uma roulotte nas imediações do Alvaláxia. Foi já nos tempos do estádio novo, depois do Estado Novo. Lá estava eu ao balcão da Rainha das Bifanas, aguardando vez com os olhos postos no serviço, quando reparo nas axilas fartas da Rainha. A Blaya ainda não existia. Tudo bem, a mulher não se rapa, é à moda antiga. Vai disto, reparo que enquanto sua alteza enchia a carcaça com bifes guardava já outra apertada no sovaco. Isso mesmo, ela ia metendo carcaças na sovaqueira como quem, sei lá, as insere numa das fases da linha de montagem. Sacava duas carcaças de um saco, apertava uma debaixo do sovaco e enchia a outra. Passava esta ao cliente, pegava na que aguardara vez no regaço axilar, enchia, servia. Pois que me calhou uma dessas bifanas. Você não está à espera que eu coma isso, pois não? Perguntei. Ó filho, olha que sou limpinha, e já comi coisas bem porcas. Arguiu. Senti-me observado pelos restantes comensais. Ali estava eu, feito burguês, a protestar da bifana sovacada. São momentos que nos incomodam, sabem como é. O mesmo que andar perdido no interior de uma floresta, ser acolhido por uma tribo e torcermos o nariz às papas de miolo de macaco servidas em folha de palmeira com insectos salteados. Pedi mais uma mini, fechei os olhos, comi a sandes. Estava boa. É esta a minha história com rainhas.
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1 comentário:
g'anda menino, nojento...
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