A TERRA DO ÍNDIO
O Índio, informado de que aquela era a Semana do Índio, esperava na oca a chegada de visitantes, que certamente iriam cumprimentá-lo e levar-lhe algumas utilidades como presente.
Chegou foi um homem de papel na mão, convidando-o a mudar-se com presteza, pois a terra fora adquirida por uma empresa de reflorestamento, que estava com toda a documentação em ordem.
O índio objetou que naquele chão viveram seu pai, o pai de seu pai e todos os pais anteriores, juntamente com a tribo. E ele não tinha para onde ir.
O homem sugeriu-lhe que fosse trabalhar na construção do metrô do Rio de Janeiro, cuja empresa não alimenta discriminação contra índios. Era solução a curto prazo. A longo prazo, cogitava-se de criar a reserva indígena urbana de Jacarepaguá — a Indiamares —, financiada pelo BNH e controlada pela Riotur. Os índios teriam direito a INPS, férias e aposentadoria, apresentando-se em shows, como autônomos. Mas ali, não. Aquela terra tinha dono, com papel passado. Fim.
Carlos Drummond de Andrade, in "Contos Palusíveis", Livraria José Olympio Editora S.A., Rio de Janeiro, 1985, p. 48. Ilustrações de Irene Peixoto e Márcia Cabral.
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