O unicórnio dos afectos anda aliviado, quatrocentas criancinhas papadas por eminências babosas não fazem uma multidão. Se fossem quinhentas, ui, isso, vá lá, prontos, já seria um bocadinho mais preocupante, mas ainda não muito, não tanto que, sei lá, nos tornasse descrentes, ímpios, hereges. Em nome do Senhor e da bondade que tanto inspira e consola, a gente junta pobrezinhos no Parque Eduardo VII e faz um piquenique. Dá-lhes música, faz uma festa. Na capital dos unicórnios é assim, uma vereadora insossa do executivo choninhas anuncia em tom caritativo mais esta iniciativa que tanto deve agradar a padres como a criancinhas: uma parada dos vulneráveis. Mata-se um porco, sacia-se a fome, bandeiras coloridas ao alto. Amém. Um dia de piquenique já não é mau, que pobres e mal-agradecidos é que nem pensar e o unicórnio primeiro-ministro só tem €125 para distribuir. Mais vale uma esmola na mão que duas a voar, ainda que quatrocentas criancinhas não façam um jardim-escola como deve ser, à grande e à francesa, isto é, ou seja, não obstante e todavia porém, contudo amém. Dizia ontem o unicórnio Milhazes que os russos já não respeitavam absolutamente nada a vida dos ucranianos, mas agora respeitam ainda menos do que absolutamente nada. Igualmente no país dos unicórnios, que aos esfomeados dá piqueniques e aos humilhados dá presidentes com afectos cambiados. Assim vai a vida no país dos unicórnios. A gente já não gostava absolutamente nada deles, mas agora a gente gosta ainda um bocadinho menos.
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