A participação no mundial de futebol do Catar legitima a
corrupção, a violação de direitos humanos e a escravatura. É uma tripla que
demonstra de modo claro e inequívoco a hipocrisia inerente a diferentes
instituições com responsabilidades desportivas e políticas. A mensagem é: o
dinheiro relativiza tudo. Portanto, esqueçamos quanto havíamos aprendido sobre
ética, moral e axiologia. As tão apregoadas crises de valores já nada têm que
ver com conflitos geracionais, são um produto da sobrevalorização do dinheiro e
do capital. Face ao valor do dinheiro, a vida humana, o amor, a liberdade, nada
valem hoje para quem está no poder e com o poder. É este o significado derradeiro
da mensagem enviada por todos quantos desvalorizam e desprezam os direitos
humanos, sejam eles quem forem. Menosprezar, por causa de um espectáculo
desportivo, a escravatura de milhares de trabalhadores que pereceram em
condições miseráveis a construir luxuosos estádios de futebol, não tem apenas
um significado simbólico. É ciência pura. O mal está legitimado. Vladimir Putin
está legitimado. Tudo quanto julgávamos repugnante e censurável está
legitimado. Não há diferença nenhuma entre o mundial do Catar e o Coliseu de
Roma. Acabámos de regredir até esses tempos, protegidos pela higiene do ar
condicionado com que se disfarçam uma absoluta insensibilidade social e uma
anestesiante indolência moral.
2 comentários:
Sem dúvida. O desmantelamento programado da sociedade como a conhecíamos está em marcha, a agenda ou as agendas estão implementadas à frente do nossos olhos mas, a passividade é mais forte. Nem vemos nem pressentimos o mal ou terror que se está a impor à espécie humana. Como disse uma vez o Eduardo Galeano, resta-nos escolher com que molho queremos ser comidos...isto se houver molho para todos, porque o mais seguro é que sejamos comidos a seco... não estivesse aí o "aquecimento global".
Saúde.
É verdade...não é preciso ir ao Catar, basta descer ali ao Alentejo, com a cartilha dos direitos humanos e perguntar-nos quem são os responsáveis e cúmplices que deverão ser criminalizados.
Abraço
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