sábado, 24 de dezembro de 2022

BOAS BESTAS

 


Era uma vez um menino que nasceu muito branquinho lá nas terras da Palestina, onde os meninos são muito branquinhos e lourinhos. A mãe era virgem, o menino foi concebido por uma pombinha também ela muito branquinha. O menino nasceu e foi uma alegria. Apareceram três reis magos e trouxeram presentes, por isso hoje damos todos presentes no dia em que celebramos o nascimento do menino. Esses presentes, tal como os enfeites de Natal, são quase todos fabricados na China. Os meninos uigures sabem como é. Há países onde os meninos fazem milagres. Esses países são o Bangladesh, o Nepal, a Índia, o Sri Lanka, países onde não se festeja assim tanto o Natal como nós festejamos, mas fazem-se coisas incríveis para que nós possamos ser muito felizes e tenhamos muitos presentes para desembrulhar. No Natal as pessoas comem muito e pensam, meditam, reflectem nas crianças que no Iémen não têm o que comer e naquelas, coitadinhas, que morrem com frio e afogadas no Mediterrâneo. Este mundo é muito injusto e desequilibrado e assimétrico, passa as batatas se faz favor. Mas como não podemos fazer nada por essas pobres pessoas, então comemos mais até ficarmos muito fartos e cheios de comida e de bebida. É para esquecer as tristezas deste mundo que o Deus menino, nascido branquinho e lourinho lá nas terras da Palestina, onde as crianças são muito felizes e limpinhas, um dia foi dado à luz pela virgem sem sistema nacional de saúde nem serviços de pediatria. Naquele tempo não havia. Agora é que há, mais ou menos, às vezes. Eu gosto muito do Natal porque o Natal é vermelho e o pai Natal parece o Karl Marx e no Natal a burguesia distribui parte da sua riqueza e o proletariado produz mais para que essa riqueza lhe traga à mesa playstations e smartphones e outras coisas muito belas como bilhetes para concertos dos Coldplay. É por isso que todos os anos eu envio aos meus amigos um postal de boas bestas.

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