Acordei a saber que perdi um amigo por causa da Quitéria. As pessoas estão cada vez mais algoritmadas, com o sentido de humor dum calhau e a cabeça cheia de neurónios tiranetes. Não era amigo que conhecesse, ninguém próximo, não era amigo. Era um perfil de Facebook. Censurado pelo Facebook por querer partilhar obras de arte, sou agora persona non grata por dar voz a uma cigana. E nisto lembrei-me de Igor, o jovem cigano que procurava trabalho em Beja e foi baleado por um agente da PSP. O tribunal condenou o agente por crime de ódio, Igor ficou desfigurado sem conseguir comer normalmente. O que será feito do agente? O que será feito de Igor? Isto passou-se em 2016. Ontem, passei uma hora de trabalho a falar com formandos (nível 11⁰) sobre a comunidade cigana. Não queiram saber o que eu ouvi, o ódio, os preconceitos, as ideias feitas, os lugares comuns, os estereótipos, isso a que chamam etnocentrismo cultural. Nessa mesma turma, uma miúda dizia que há trabalhos que os ciganos não podem desempenhar porque não são sérios. Tantas décadas de luta para que não houvesse discriminação no trabalho entre homens e mulheres, para que qualquer profissão pudesse ser desempenhada tanto por homens como por mulheres, e subitamente dou por mim perante uma jovem para quem certos trabalhos não podem ser desempenhados por pessoas de etnia cigana só porque são ciganos. Esta jovem tem pais a quem certamente ouviu tais coisas, os pais falam com outras pessoas e na escola não há muita gente disposta a falar disto. Não está fácil, não. Velhos preconceitos de um lado, o algoritmo do outro, o ensino massificado falido, as redes ao rubro.
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