sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

BALADA DA BÓSNIA

 


 

Enquanto te serves de um uísque,
esmagas uma barata, olhas para o relógio,
enquanto compões a gravata,
há pessoas a morrer.
 
Em cidades com nomes curiosos,
atingidas por balas, apanhadas pelas chamas,
em regra sem saberem porquê,
as pessoas morrem.
 
Em pequenas localidades desconhecidas,
porém vastas, que não deixam hipótese
de gritar ou dizer adeus,
há pessoas a morrer.
 
As pessoas morrem enquanto eleges
novos apóstolos da incúria,
do autodomínio, etc. — pelos quais
as pessoas morrem.
 
Demasiado longe para o amor
pelo vizinho/irmão eslavo,
onde os querubins temem voar,
há pessoas a morrer.
 
Enquanto observas a pontuação dos atletas,
verificas o último extracto, ou
cantas uma canção de embalar ao teu filho,
há pessoas a morrer.
 
O tempo, cuja cortante sede de sangue separa
os mortos daqueles que matam,
anunciará a tribo derradeira
como o teu grupo sanguíneo.
 
Joseph Brodsky
 
Versão de HMBF, a partir de “American War Poetry”, Columbia University Press, 2006, pp. 340-341.

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