terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

MALDITO INVERNO

Ah, como gostava de escrever coisas altamente polémicas. Penso, penso, penso, mas nada sai de altamente polémico. Se eu fosse altamente polémico, ah, como eu seria realizado. Assim, neste estertor de banalidades rasteiras, o mais que consigo é ser vulgar, um trapo esquecido numa gaveta quase vazia. Ninguém gosta de mim, ninguém me debate nem partilha, ninguém me desamiga para que eu possa dizer coisas ainda mais polémicas do que as coisas que não digo. Um dicionário inteiro para todo este silêncio. Nada em mim suscita controvérsia, serei esquecido ainda antes de me esquecerem e queira deus que morra ainda antes de morrer se morto não estou já. Um pensamento todo ele composto por ossadas, nada que vivo possa ser executado. Tudo pó sobre pó e uma alergia intratável aos ácaros. Atchim. Ah, como eu sonho com ruído à minha volta, um foguetório de impropérios e insultos. O mais que almejo é isto, um nariz a fungar com pingo na ponta, falta de ar, dores nas costas.