«A mulher morrera-lhe muito nova, em resultado duma operação no hospital e donde, como se verá, não voltou. Com a autópsia fizeram-na tão pouco apresentável que devolveram depois da Macário um cadáver mais correcto, entaipado numa caixa de pinho; ele chorou a sua defunta e dispensou um magro beberete aos que o consolavam no transe; quando descia à terra a companheira, o coração falou-lhe, quis por última vez vê-la. Deparou-se-lhe um homem com uma pelagra amarela na cara e que tinha pelo menos uma semana de morgue, com as cordoveias secas e as pálpebras como que empalhadas. Macário nunca mais foi o mesmo, e compreende-se.»
Agustina Bessa-Luís, in O Susto (1958), Relógio D'Água, 2.ª edição, Janeiro de 2019, p. 168.
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